Os 3 melhores livros de Juan José Saer

Poucos escritores em transição contínua, naquele processo criativo que sempre busca novos horizontes. Nada para se estabelecer no que já é conhecido. A exploração como sustento de quem se entrega à tarefa de escrever como ato de compromisso sincero com a própria criatividade.

Tudo isso praticou um Juan Jose Saer poeta, romancista ou roteirista que em cada disciplina se entregou a partir de sua fase criativa. Porque se algo deve ficar claro que nunca somos os mesmos, esse tempo está nos conduzindo por abordagens muito diferentes, principalmente deve ser um escritor que constante essa evolução rumo à mudança.

A questão é saber se expressar com a mesma contundência, com a mesma qualidade, seja contando histórias realistas, seja focando em estilos mais vanguardistas onde a linguagem se busca entre o lírico e o metafísico. E claro que isso já é coisa dos gênios que podem fazer, que podem mudar o registro sem piscar.

Neste espaço vamos ficar com o seu aspecto narrativo, que não é pouca coisa. Sabendo que estamos diante de um dos maiores escritores argentinos que às vezes se disfarça de Borges para mais tarde aparecer como um novo Cortázar.

Os 3 principais romances recomendados de Juan José Saer

O entenado

Em alguma outra ocasião, não sei se em algum romance menor de Morris oesteFiquei fascinado com o uso de uma remota cidade-ilha para questionar todos os tipos de princípios morais com profundidade incomum no meio de um romance de aventura.

Desta vez, algo semelhante acontece. Apenas avançamos para os dias de "geminação" entre a Europa e a América. Após a chegada de Colombo, um novo mundo se abriu para quem ali vinha em busca de prosperidade ou aventura. O choque de culturas é evidente neste romance que nos confronta com tudo.

O taifeiro de uma expedição espanhola ao Río de la Plata, no início do século XVI, é capturado e adotado pelos índios colastinos. Desta forma, ele conhece algumas tradições e rituais que o confrontam com novas percepções da realidade.

Por que o costume da tribo pacífica de realizar anualmente uma orgia de sexo e canibalismo? Por que o grumete não tem o mesmo destino de seus companheiros?

No melhor tom das tradicionais Crônicas das Índias, Saer nos coloca diante de questões como realidade, memória e linguagem, dentro de uma história que se lê como um livro de aventuras.

O entenado

A investigação

Um dos romances mais vanguardistas de Saer. Sob o disfarce de um romance policial, aos poucos o que se passa é uma espécie de investigação sobre nós mesmos. Porque a abordagem do caso atual vai além de crimes ou mistérios, atingindo nosso foco nas aparências e nas realidades, dançarinos exímios no baile à fantasia do nosso carnaval diário.

Nesta obra labiríntica, Juan José Saer nos conduz em duas investigações paralelas sobre a complexidade da loucura, da memória e do crime. Os casos, o famoso mistério de uma série de assassinatos em Paris e a busca pela autoria de um manuscrito entre um grupo de amigos, são as desculpas que vão provocar nossa reflexão.
Com inteligência aguçada e a sabedoria de encontrar a palavra exata, Saer revela nossa tendência de antecipar julgamentos sobre o que não podemos saber e revela a dificuldade de formar uma opinião realista em um mundo não simplificável, investigando os cantos mais sombrios de nós mesmos e empurrando nosso capacidade de percepção e compreensão ao limite.

A investigação

Lustro

O escritor de frente para a página em branco. Nenhuma metáfora mais perfeita do que aquela apresentada por este romance. Porque os dois amigos bem poderiam ser você e sua imaginação, naquele desdobramento necessário de qualquer missão criativa.

Aprender a escrever é combinar pelo menos dois focos para tornar tudo crível, para que as coisas adquiram mais planos e dimensões. Tal como a festa de aniversário que se recria no imaginário de duas pessoas que não compareceram, mas que conhecem as suas consequências mais transcendentes para o bem ou para o mal.

O que aconteceu naquela noite na festa de aniversário de Jorge Washington Noriega? Durante uma caminhada pelo centro da cidade, dois amigos, Leto e o Matemático, reconstroem aquela festa da qual nenhum dos dois compareceu.

Circulam diferentes versões, todas enigmáticas e um tanto delirantes, que são revistas, recontadas e discutidas. Nessa longa conversa, anedotas, memórias, histórias antigas e histórias do futuro se cruzam.

Tomando o Banquete de Platão como modelo, o argumento estaria próximo da tentativa impossível de reconstruir uma história. Como narrar? Como e o que narrar em uma história passada? Como contar a violência, a loucura, o exílio, a morte?

Lustro
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2 comentários sobre “Os 3 melhores livros de Juan José Saer”

  1. Excelente análise, mas acho que o melhor romance de Saer é La Grande. Sim, estes são os seus romances mais canônicos, centrais em sua obra: Glosa, Ninguém nada nunca, O verdadeiro limoeiro, mas em La Grande ele condensa toda a sua intenção literária, todo o seu projeto, e leva ao máximo sua escrita perfeita. É também o seu livro mais sensorial e sensual. Seu único defeito: seu estado inacabado. Mas se você olhar bem, parece até uma virtude, que exalta a magia da obra de Saer: o que importa é a narração.

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