Literatura em português encontra em um Jorge Amado localizada do outro lado do Atlântico, a melhor réplica de geração Saramago o Wolf Antunes. Do Portugal dos dois monstros mencionados acima ao Brasil de uma Amada encarregada de carregar a batuta narrativa do paÃs amazônico em meados do século XX.
Porque quando, a partir dos anos XNUMX, Jorge Amado se entregou à literatura na sua vertente novelÃstica ou ensaÃstica, já fazia o seu bom caminho de vida. Com um pano de fundo vital para oferecer aquela visão de mundo que é toda narração.
E ele quase sempre escolheu o pequeno, o simbólico, o anedótico como um ponto de partida necessário para se sintonizar com cada leitor. Dessa redução ao expoente mÃnimo do cotidiano, Amado já se ocupava erigindo suas tramas em direção à quele ponto exaltado da humanidade que é a paixão, a vida e a morte. Quase sempre da Bahia para o mundo.
Claro, nada melhor do que os cenários onde a pobreza faz morada para repensar a existência mais ligada à terra, ao que existe, à sobrevivência sem frescuras, imprecisões ou bens supérfluos. A ação em Jorge Amado é vida, aventura extrema, paixão e incerteza como tensão narrativa. A fusão entre trabalho e vida ocorre como em poucos casos.
Os 3 principais romances recomendados de Jorge Amado
Capitães da arena
Afirmada para falar de vidas na corda bamba, da sobrevivência como única meta, nada melhor do que contemplá-la desde um jovem tão insolente e ousado quanto submisso a uma mão que sabe manejar os cordões.
Os habituais gangues de jovens são, dependendo dos paÃses e bairros, terrenos perfeitos para alimentar assassinos de aluguel com almas jovens que procuram a perdição como a única religião possÃvel, uma vez que a esperança desapareceu do horizonte antes mesmo de abandonar a infância. Romance ambientado em Salvador da Bahia, "Capitanes de la Arena" gira em torno de uma gangue de jovens criminosos que, refugiados em uma área esquecida do porto, assolam a cidade.
A caracterização de Jorge Amado dessas crianças atiradas ao crime, cientes dos aspectos mais sórdidos da luta pela existência, é uma das maiores conquistas do popular escritor brasileiro. O picaresco e a ternura, a busca pela sobrevivência e o sentido de solidariedade são traços marcantes deste romance em que o lirismo e a crueza se entrelaçam.
Gabriela, cravo e canela
Sim, houve e haverá. Quero dizer mulheres fatais (assim como também haverá homens fatais). A questão é explorar os recursos, saber compensar a magia da atração e da beleza com uma inteligência sibilina para emergir das sombras da miséria. É quando uma mulher fatal tem tudo justificado, mesmo a mais maquiavélica das ideias para alcançar alguma justiça social.
Quando Gabriela, uma bela mulata analfabeta, chega a Ilhéus, cidade do interior da Bahia, fugindo do campo e da miséria, um divertido aglomerado de paixões humanas se desencadeia em um cenário heterogêneo repleto de sabores, cores e cheiros. A sugestiva Gabriela, seu amante -o pitoresco e pragmático Nacib-, as singulares irmãs Reis e a eternamente apaixonada Professor Josué são apenas os protagonistas deste inesquecÃvel romance do escritor brasileiro Jorge Amado que, impregnado de vitalismo e sensualidade profundamente ligados para a cultura e os costumes de sua baÃa natal, é uma celebração da existência e do humor.
Doña Flor e seus dois maridos
Por mais que sejam estereótipos, não se pode negar que a sensualidade mais impulsiva é herança de lugares como Brasil, Cuba ou muitos outros paÃses do Caribe, da América Central ou da América do Sul. E essa paixão também pode concretizar-se na literatura, como demonstrou Jorge Amado neste livro.
Só que, como narrador primoroso que foi, Amado cobre tudo com a própria idiossincrasia latina, com um imaginário tão cheio de santos quanto de corpos nus, de uma razão sempre em devida conivência com o carnal para poder ter forma e sustento nestas paragens onde o amor e a paixão coexistem em tensão absoluta, o melhor que podem.
Viúva de repente aos trinta, Dona Flor, sempre dividida entre a vontade e o instinto, casa-se com Teodoro, o metódico e modesto farmacêutico baiano com quem pretende estabilizar a vida. Mas, para sua surpresa, em breve será requisitada novamente pelo primeiro marido, o incorrigÃvel Vadinho, um crânio de animal sensual, preguiçoso e festeiro que voltará do além com suas habilidades amorosas intactas, pronto para colocar a relação do casal exemplar o teste. Um romance inesquecÃvel que captura todo o sabor, humor e charme da vida baiana.